segunda-feira, 13 de abril de 2009

Adopção... outra vez

Ainda o tema da adopção... e a respeito de uma mensagem que recebi que me fez ficar a pensar (enquanto devoro umas bolinhas de chocolate com avelãs :)...) no respeito que temos que ter pelas opiniões de todos os outros...

Eu respeito as opiniões de todos. Acho que se alguém quer adoptar 1 criança e essa criança tem que ser 1 bebé recém-nascido tudo bem. Acho que se alguém não quer adoptar 1 criança de cor tudo bem. Acho que as pessoas indicam as características/requisitos (expressão horrorosa e que não devia utilizar...) que querem e pronto.

Agora o que também acho é que temos que chamar as coisas pelos nomes... E se alguém não adopta 1 criança de cor... isso é discriminação, certo? Racismo, certo?... As pessoas coloquem os requisitos que quiserem mas vivam com eles. Tenham noção de que o discurso que têm de que não estão preparados para gerir a diferença, de que a família não vai aceitar, que não sei o quê... pode ser legítimo até porque é a verdade (se bem que há muitas verdades que não são legítimas...), mas não apaga o facto de ter 1 preconceito forte por trás...

Nós colocámos algumas restrições no nosso processo. Não foram fáceis essas restrições...
Não colocámos a da cor. Para nós era 1 disparate colocar essa restrição (não é disparate... é mais como dizem os ingleses: nonsense, sem sentido). A assistente social quando falámos da questão da cor e eu lhe disse que não seria capaz de colocar essa restrição disse-nos: mas vcs não podem tomar as vossas decisões a pensar no que os outros podem dizer, não podem estar preocupados de ser acusados de racismo ou coisa assim... e eu respondi-lhe: eu não estou preocupada com o que os outros vão pensar de mim. Eu preocupo-me sim com o que eu vou pensar de mim... Porque é com a minha decisão que eu vou ter que viver...

E por isso vos digo que não foram fáceis as nossas restrições... Com que direito disse que não a crianças apenas porque já tinham cresido um pouco? Com que direito?...
Faria igual hoje? Talvez não...

Mas vivo com a minha escolha todos os dias... e não arranjo nenhuma desculpa simpática para justificar o que fiz. As coisas têm que ser chamadas pelos nomes... por muito que custe e doe percebermos muitas vezes que não somos assim tão perfeitos...

4 comentários:

Mão de Mãe disse...

Perfeito aos meus olhos foi apenas Jesus...(lá está...mais uma opinião...a minha).

Mas é também minha opinião que voçês fizeram as escolhas perfeitas.

Bem sabes que não acredito em acasos...bem sabes que defendo que nada acontece porque sim...
Bem sabes que tb acredito que são as nossas escolhas que nos levam a um "destino"...por isso (e para mim)...as vossas "restrições" foram as perfeitas...as certas...porque foram elas que te trouxeram os G`s. Eram eles...os principes do teu reino.

Memória das Cores (Susana) disse...

Como a Alex diz ainda há muitas falhas nos processos de adopção. Não me parece que o governo se interesse muito pelo assunto. Depois das últimas mudanças normativas o processo tornou-se muito mais célere. Os candidatos têm que ser analisados num período de 6 meses. No nosso caso a legislação foi mesmo seguida à regra. Fomos entrevistados num período de 6 meses, passado um mês tinhamos uma resposta positiva da Santa Casa.
Eu e o meu marido somos muito curiosos e temos sempre muitas perguntas a fazer à equipa da Santa Casa que nos acompanha desde o 1º dia. Umas das perguntas feitas foi se havia muitos candidatos a serem rejeitados e com que critérios era feita essa rejeição. Explicaram-nos que havia muitas pessoas a tentarem adoptar pelos motivos errados. Também eu gostaria de ver este assunto discutido. E gostaria que se falasse naquilo que não está a correr bem. Porque se eu sou uma felizarda e sinto que estou a ser totalmente apoiada pela assistente social e pela psicóloga que nos acompanha há 1 ano há pessoas que têm histórias bem mais tristes. Também gostaria de ver relatada a diferença entre os processos em Lisboa e nas províncias. Sei que os serviços sociais trabalham de forma desigual e que a realidade fora de de Lisboa é bem diferente.Outra coisa que me indigna é o desinteresse de alguns centros de acolhimento em ver as suas crianças adoptadas. E porquê? porque auferem apoios estatais por cada criança que recolhem!!!!
Acho que nos compete a nós pais que sabem o que é adoptar lutar para modificar a sensibilidade do governo e de todos os outros. Não está farta de ouvir "Coitadinhos!!" quando olham para os seus G's? ou farta de ouvir "És uma heroina!". Eu não sou heroina nenhuma, sou simplesmente mãe de uma menina adorável, que tem uma cor diferente da minha (a nossa azeitona!!) e que por acaso não saiu da minha barriga!!! Mais nada.
Ao contrário de si eu não sou nada tolerante com pessoas que escolhem a cor das crianças. Isto só tem um nome RACISMO.
Será que me podia indicar os nomes dos forúns onde se discute este assunto? Obrigada e muitas felicidades

alex disse...

Susana,

qt ao seu comentário (que agradeço) digo-lhe que o nosso processo de adopção, que ainda é bastante recente correu muito bem. Todos os prazos foram cumpridos, a equipa da SS esteve presente, o nosso tempo de espera foi curto, ou seja... quanto ao nosso processo não tenho muito a apontar. Houve apenas um erro algures, mas os erros acontecem e no geral não temos muito a apontar. Mas sei também que não é assim com todas as equipas de adopção. Sei também que há distritos onde as coisas não correm mesmo nada bem e sobretudo sei que há crianças nuns ditritos que não têm pais quando há distritos com pais para elas. E isso, no meu entender, é grave e nunca deveria acontecer.

Quanto ao tema do racismo... o que pretendo dizer é que acima de tudo não sou tolerante com pessoas que não escolhem 1 criança de cor e dps acham que não são racistas. É preciso chamar as coisas pelos nomes. Se as pessoas o são devem ter consciência disso e não esconder-se atrás de qualquer subterfúgio.
Eu não sou racista. Mas de certeza que tenho muitos outros defeitos. E não acho que seja tolerante com o racismo. Tento é que a minha falta de tolerância não se torne em intolerância com tudo e com todos (não sei se me consigo explicar...).
Mas concordo consigo quando diz que nos cabe a nós pais contribuir para a mudança de mentalidades e tentar que outros não sofram alguma da discrimunação que sentimos muitas vezes na pele.

Sabe quando pessoas que nem me conhecem me vêm com essa conversa de que sou o máximo por ter adoptado só digo que adoptámos por um motivo muito simples: sempre quisemos ter filhos (o que acaba por até ser 1 motivo bem egoísta, não?).

No yahoo há um grupo de discussão que é o nós adoptamos que é frequentado por pessoas que já adoptaram, estão em processo de adopção ou foram adoptadas. É um bom espaço de partilha.

alex

Unknown disse...

Uma vez mais: bom exercício de cidadania, sim senhora(s).

Suponho que tenha sempre de haver limites, Alex. Quanto mais não seja os recursos e as disponibilidades de quem adopta (nunca são ilimitados) e os limites do bom senso. Por absurdo poder-se-ia adoptar um velhote, mas isso não seria adopção de filhos, pois não?