sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

sobre ser mãe e ter carreira e não ter que optar...

a minha questão é: porquê ter que optar?

porque é que os filhos pressupõem, como diz uma amiga minha muito especial, que apenas um dos pais possa apostar seriamente na carreira?
não consigo perceber... podem haver circunstâncias que o exijam. por exemplo 1 dos pais estar fora e o outro ter sempre a responsabilidade de toda a logística associada a uma criança, o que dificulta alguma flexibilidade horária que a responsabilidade adicional normalmente acarreta. Mas porquê quando ambos os pais estão presentes diariamente? É assim tão díficil gerir entre os dois?

É claro que é díficil. Aliás é díficil gerir só um. Mesmo quando não temos filhos quantas vezes não ficamos até mais tarde no trabalho, não nos dedicamos e entregamos demasiado? Responsabilidades acrescidas exigem semptre mais de nós. Por muito que se fale na conciliação vida pessoal-profissional, na aposta que as empresas devem fazer dando laptops a todos os colaboradores, tele-trabalho e tudo o mais, a verdade é que isso está muito longe da realidade de muitas empresas e isso, todas essas ferramentas, não impedem as exigências adicionais de trabalho, nem as horas a mais que temos que trabalhar...

E isso acontece-nos a todos. Homens ou mulheres. É assim.

E cabe a nós tentar influenciar isso. Será que no mundo empresarial somos flexiveis o suficiente com aqueles que trabalham com e para nós? Olhamos da mesma forma para 1 pessoa que sai todos os dias às 5 versus outra que sai sempre às 7? Concentramo-nos no essencial? Ou seja, no resultado do trabalho? Será que desenvolvemos o suficiente uma cultura de responsabilização e de respeito pelos outros? Responsabilização pelo trabalho que tem que ser feito e dentro dos prazos esperados. Respeito pela vida pessoal dos outros. Não telefonando tarde, fora de horários razoáveis, ao fim de semana...

1 outra grande amiga minha dizia-me noutro dia sobre o meu trabalho: "mas alex tu és diferente de mim. Eu preciso mesmo de estar com as minhas filhas algum tempo todos os dias."

Nesse dia agarrei nas minhas coisas e saí às 5 da tarde do trabalho. Foi díficil ouvir aquilo. Porque a frase pressupõe que eu não sinta querer estar com os meus filhos.

Eu sei que não foi esse o sentido. Sei mesmo. Sei porque o caso dela é especial (o pai trabalha fora do país e ela durante a semana é pai e mãe). E eu tanho 1 pai em casa. Um excelente pai. Que todos os dias dá banho. E joga Wii. E faz companhia.

Mas não consegui deixar de o sentir.

Eu sinto que tenho que estar com os meus filhos. Eu preciso de passar tempo com os meus filhos. De saber como são os dias deles. De participar. De estar envolvida. Eu chego tarde ao trabalho. Eu faço tempo em casa de manhã para ter a certeza que quando chego à escola a professora já lá está e posso falar com ela. Eu chego tarde à noite a casa. Há dias em que eles estão a meio do jantar ou mesmo jantados. Já aconteceu (é raro, mas já aconteceu) eu não ver os meus filhos durante o dia. E é duro. É muito duro. Já chorei no trabalho por isso. 1 deles diz-me muitas vezes: tens que trabalhar mais depressa! Tenho pena de não ir ver as aulas de natação da tarde deles como outras mães fazem. Tenho muita pena... Tenho pena de outras coisas...

Mas eu preciso de trabalhar. O pai precisa de trabalhar. Porque é preciso alimentá-los. E pagar a escola. E tentar ter 1 vida confortável. Porque a vida não dá.

E também porque eu preciso de trabalhar. Eu não tenho perfil para estar em casa. Eu preciso de fazer coisas. E eu tenho sorte... porque até faço coisas que gosto. E eu não consigo fazer as coisas a meio termo.

Nós, como indíviduos, devemos empenhar-nos e dar o nosso melhor nas coisas que fazemos, não é?

Quando somos pais e quando trabalhamos. Por isso porquê optar? Seguramente que se consegue conciliar... Umas vezes mais díficil. Outras vezes mais fácil. Até porque um dia os nossos filhos vão ter que fazer exactemente o mesmo. Porque não tirar-lhes já esta pressão de cima?

3 comentários:

Jorge Freitas Soares disse...

Belo Post Alex, quando queremos, conseguimos ter tempo para tudo, porque a empresa tem que perceber que há vida para além do trabalho ...e nós temos que lutar para que assim seja.

Jorge

Cham disse...

Adorei este post…
Quando o li ontem, não tive coragem para te escrever mas fiquei a pensar que não estou sozinha. Ontem foi um dia daqueles em que só lhes consegui dar um beijinho de boa noite, fiquei triste porque me fez pensar na vida e do que queremos dela…
E eu neste momento quero muita coisa, também actualmente faço o que gosto e muito…mas quero estar com os meus filhos, quero me aperceber diariamente da evolução deles e não só ao fim de semana que lhes noto muita diferença, principalmente na mais pequena que a cada dia tem vocabulário novo, quero ajudar nos trabalhos de casa do J., quero dar-lhes banho…
Também tenho um pai fantástico em casa, que faz isto tudo, mas também ele tem carreira…
E fico a pensar, será que um de nós devia prescindir da “carreira”? E o que fazemos à nossa vontade de crescer profissionalmente?
É possível conciliar? Eu também acho que sim, como dizes, se passarmos a olhar da mesma forma para 1 pessoa que sai todos os dias às 5 como a que sai todos os dias às 7 e olharmos sim para o resultado final do trabalho. Mas onde eu estou isso está longe de acontecer…Será que conseguimos mudar mentalidades? Eu acho que sim, já o estamos a fazer aos poucos ao nível da adopção, não é?!

Um grande beijinho
Cham (Ana)

Mão de Mãe disse...

Por razões óbvias...não vou poder comentar...falamos depois.

beijinho.